Isaías Caminha e o Mal-Estar na Civilização Brasileira no Limiar do Século XX

capa_isaias_caminhaO coletivo Rizoma Editorial anuncia a seu público leitor o lançamento da obra Isaías Caminha e o Mal-Estar na Civilização Brasileiroa no Limiar do Século XX, da Profa. Izabel Cristina Cavalcanti da Cruz, mestre em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pesquisadora da vida e obra do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922).

Nesta obra, a autora tem como principal objetivo dialogar com diferentes saberes, estabelecendo uma relação entre Literatura e psicanálise para proceder à análise da obra de Lima Barreto, Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), visando reconhecer de que modo se manifesta, na estrutura do texto, o mal-estar freudiano experimentado pelo protagonista Isaías face às circunstâncias engendradas pela civilização brasileira do início do século XX. A obra parte do pressuposto de que a dor e o desamparo vivenciados por Isaías Caminha, ao longo da narrativa, foram sublimados, e, portanto, canalizados para tarefa artística de recompor a sua trajetória de vida por meio da reelaboração de suas memórias. A literatura emerge no contexto do romance, como uma fonte de consolo para o desamparo a que Isaías se vê relegado face à hostilidade advinda da realidade com a qual depara na metrópole carioca. Concebendo o Rio de Janeiro como uma metonímia da civilização, visamos observar o contexto histórico do romance e o ambiente da Primeira República brasileira, assim como perscrutar de que modo a transição Monarquia/República e as tensões e contradições inerentes a esse evento, colaboraram para o mal-estar que, instalado na sociedade, reflete em Isaías Caminha, em forma de ressentimento.

Cabe lembrar que, como jornalista, Lima Barreto contribuiu para diversos periódicos anarquistas do início do século XX, reportando e comentando o importante (mas lamentavelmente pouco conhecido) episódio da Insurreição Anarquista de 1918 no Rio de Janeiro, do qual participou como testemunha ocular. Adepto da literatura militante, em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto aborda temas ainda atuais, como o racismo e a subordinação, revelando-se como um dos pioneiros intelectuais libertários da literatura brasileira.  É, portanto, muito oportuna e de grande interesse a todos os que anseiam por alternativas renovadoras dos costumes e práticas da ainda anacrônica, reacionária, cartorial e autoritária sociedade brasileira, um século depois de Lima Barreto, a penetrante análise realizada pela autora nesta obra.

Praticamente antecipando a definição da “Sociedade do Espetáculo” de Guy Debord e os Situacionistas franceses da década de 1960, Lima Barreto escreveu que “o Brasil não tem povo, tem público”  – nada mais atual, nada mais contundente, nada mais libertário! Longa vida a Lima Barreto!

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